Pecado

Richard Simonetti: artigo sobre pecado
Richard Simonetti

por Richard Simonetti

A fim de atrair fieis para sua igreja, o pastor das almas colocou um cartaz na porta: Se você está cansado de pecar, entre.
Alguém anotou, embaixo, letra feminina, um número de telefone, observando: Se ainda não estiver cansado de pecar, ligue-me.
A anedota é infame, amigo leitor, mas remete-nos à expressão pecado que costuma ser situada como uma ofensa a Deus. Na verdade, não temos competência para isso. O relativo jamais atingirá o Absoluto.
Não obstante, podemos usa-la para definir um comportamento que compromete nossa filiação divina.
A teologia medieval fala em sete pecados capitais, passíveis de remeter a Alma para as caldeiras de Belzebu: Avareza, Gula, Inveja, Ira, Luxúria, Orgulho e Preguiça
As religiões situam-se por apelos divinos, convocando-nos a superar o comportamento pecaminoso.
Não obstante, sempre há recadinhos de nossa inferioridade:
Passe ao largo, desfrute os prazeres, aproveite a vida.
Não perca tempo com beatices.
Ligue para mim (dê atenção às minhas sugestões)…
A propósito do assunto, o apóstolo Paulo tem ilustrativa observação (Romanos, 7:19): Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço.
É o retrato fiel da condição humana, em que prevalecem impulsos primitivos de animalidade, uma espécie de ir ao sabor da correnteza, acompanhando a multidão.
Mais desejável deter do que oferecer.
Mais animador o excesso do que a frugalidade.
Mais fácil revidar do que relevar.
Mais envolvente a sensualidade do que a castidade.
Mais convidativa a inércia do que a ação.
Mais atraente o vício do que a virtude.
Mais motivadora a paixão do que a razão.
Todavia, há conseqüências indesejáveis.
Quando nos deixamos levar, fica sempre um gosto amargo de fim de festa, uma inquietação indefinível, como se estivéssemos fora dos ritmos da Vida, distraídos dos objetivos da existência, transviados em relação às metas que nos compete alcançar.
Nesses descaminhos, há um encontro tão infalível quanto indesejável: A Dor, mestra severa e intransigente, a serviço de Deus, a cumprir a missão que lhe foi confiada: corrigir nossos rumos, ajudando-nos a trilhar os caminhos retos, superando as tendências inferiores que nos inspiram. Então, lamentamos o tempo perdido, os comprometimentos, a semeadura de frustrações e angústias.
Imperiosa, portanto, elementar providência, se desejamos aproveitar integralmente as oportunidades de edificação da jornada humana, evitando os penosos encontros com a Dor:
Ignoremos os recados mal intencionados dos instintos.
Atendamos aos convites da religiosidade, em favor de nossa própria renovação.